Entrevista com Pedro Santinho: uma história de luta em uma fábrica sob o comando dos trabalhadores

Dia cinco do mês de março de 2008. Ocorreu na cidade de Sumaré, em São Paulo, uma audiência pública com o objetivo de discutir a situação da Flaskô, uma fábrica da cidade. Mais precisamente, discutiram medidas viáveis para que ela continue funcionando. Estavam presentes inúmeros trabalhadores, sentados ao fundo da Câmara Municipal, juntamente com representantes de diversos movimentos sociais e de partidos políticos, além de alguns vereadores. A cena mostra claramente que não se trata de uma audiência comum e, tampouco, de uma fábrica comum.

Compondo a mesa da audiência estava o entrevistado desta edição: Pedro Santinho, coordenador do conselho de fábrica da Flaskô. Com formação em administração de empresas e em ciências sociais, ele auxilia na administração e na coordenação de diversas instâncias de decisão da fábrica. Anteriormente desempregado, aproximou-se da Flaskô por conta de seu trabalho de organização junto com os trabalhadores das fábricas Cipla e Interfibra, indústrias de material de construção de Joinville, Santa Catarina.

Para falar da Flaskô “sob o comando dos trabalhadores” é preciso ter em conta o surgimento, recente na história do Brasil, do Movimento das Fábricas Ocupadas, nascido junto com as ocupações na Cipla e na Interfibra. Atualmente, somente a Flaskô e a Álcalis, no Rio de Janeiro, permanecem ocupadas.

A Flaskô é uma fábrica do setor químico-plástico, localizada no Parque dos Bandeirantes, em Sumaré, que foi ocupada em doze de junho de 2003, por cerca de noventa trabalhadores. Como nos diz Pedro – “sabíamos que a fábrica era viável, mas que tinha sido prejudicada por uma série de fatores da época do dono. Isso foi um elemento que permitiu aos trabalhadores lutarem por seus empregos de uma maneira coletiva, ocupando a fábrica (...)”.

O objetivo da entrevista, realizada na própria fábrica, em dezembro de 2007, foi conhecer o que os trabalhadores da empresa denominam de “gestão operária”. Algumas questões motivaram a realização da entrevista, como, por exemplo: como é viver e trabalhar numa fábrica ocupada? Aliás, o que constitui uma fábrica ocupada? O entrevistado sugere alguns caminhos para as respostas contando o processo de ocupação da fábrica e os desafios enfrentados diariamente. 

Ainda que o contato com os trabalhadores tenha sido breve, pude perceber um ambiente diferenciado do ponto de vista das relações de trabalho, em que a liberdade de expressão parece se fazer presente. Nesse contato, também pareceu que a luta desses 1 Trabalho realizado sob orientação da professora Leny Sato do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

Agradeçemos ao Thiago de Oliveira e ao Fábio de Oliveira pelas sugestões para o aprimoramento deste trabalho.

Beatriz Ferraz Diniz 
Estudante de psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Contato: biafdn@gmail.com